sábado, 13 de setembro de 2008

O PARTIR

Era noite e eu ainda não dormira. Mas me lembro, ainda como nunca, como o céu estava cinza. Cinza como o azul do céu. Na varanda, nada que ainda anda, anda, corre rumo à cama. Na mente, nada que cante, ante qualquer emoção, são, doente ou não, são, simplesmente são. A lua, que nada fala, ilumina, mina, luz e beleza, sobre a mesa, como um lindo araçá redondo, o medo, o dedo que aponta, contra o nada moral como uma cobra coral sem dentes e veneno, mas que ainda assim sendo, amedronta o anta que, sendo eu, não canta e deixa que o que encanta se vá, e vai. Vai porque não quer ficar, mas fica, mesmo sem querer, no coração de quem não quer ficar. Parte e leva a parte que a sua outra parte deixou à parte do coração partido, incontido, ido com quem foi. E nada, ainda sendo cedo, é tão tarde quanto a noite de ontem, mesmo que tudo o que tenha seja o coração, que agora fica para trás, adentro do portão. No além, dalém adiante, não antes do sol que acorda, uma lágrima cairá e há de ser que quando chover, o rachado do coração deixado haverá de florescer. Brotar-lhe-á uma flor, que com dor, por deixa do amor, fenescerá ao ardor do rulgor fulgaz do que jaz em pleno peito, sem jeito, sobre o leito quente de espinhos, feito ninho: um horror.

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